Feira Kantuta, um pedacinho da Bolívia em São Paulo

Existe um lugar mágico em São Paulo onde você vai encontrar milhos secos gigantes, batatas negras, suco de milho roxo com especiarias, empanadas com caldinho suculento e coração de boi acebolado. A Feira Kantuta, localizada no bairro Pari (atrás da Luz), é um oásis boliviano perto de uma estação de metrô com o nome de outros imigrantes: Armênia. Nos últimos anos, os armenos deram lugar à colorida comunidade boliviana com seus chapéus de feltro, mantas neon e culinária riquíssima (e pouco conhecida pelos brasileiros). E sabe o que mais? É tudo muito barato!

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Todo domingo é instalada uma rádio na feira, que toca músicas bolivianas de vários ritmos e tem um locutor bem animado que dá recados (tudo em espanhol, claro) para a comunidade boliviana e mantém o clima animado. No pátio central, grupos de dança tradicional boliviana ensaiam para as festas tradicionais.

Quanto mais perto das datas comemorativas, mais roupas típicas os dançarinos usam, então tente se programar para ir próximo às datas mais populares (no 6 de Agosto, Independência da Bolívia, é realizada uma grande festa do país no Memorial da América Latina, então logo antes das festividades a praça se enche de guizos, chapéus, tranças compridas e elaboradas e muito suor nos ensaios).

Infelizmente as três vezes que fui foram longe de datas especiais, então as pessoas estavam usando roupas “casuais” para ensaiar. O que achei mais interessante foi a bota masculina com guizos gigantes, que fazem uma percussão acompanhando o movimento dos dançarinos.

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Vá com fome: há diversas barraquinhas de comida e todas elas parecem ter sido teletransportadas do mercado de Cochabamba, Sucre ou La Paz.

Você pode escolher sentar-se em uma mesa e pedir pratos com arroz, macarrão ou sopa. Pessoalmente, passo os chicharrones – barriga de porco frita com temperos, cebola e batata – e prefiro o anticucho (coração de boi picadinho com legumes e arroz) ou uma sopa de cinco batatas e quínua, tão rica e saborosa que levanta qualquer defunto no túmulo! Também é possível pedir umas salchipapas (salchicha e batatas fritas) ou frango assado com batata frita – pratos fast-food que você encontra em qualquer esquina na Bolívia.

Se a sua vontade é comer de pé, ou comer várias entradinhas, há duas barraquinhas-padarias que vendem pães e biscoitos (para comer na hora ou levar para casa) e outras três barracas de salteñas.

As salteñas são empanadas tipicamente bolivianas. Elas têm uma casca fina e resistente e o recheio  – ATENÇÃO! –  vem bem quente e com muito caldinho! Por isso, não estranhe a colher que vem acompanhada: você vai precisar dela se não quiser sujar toda a sua roupa! Coma segurando-as na vertical, de cima para baixo. A minha preferida é a tradicional de carne de vaca

salteñas bolivianas na feira kantuta

Nos dias de calor, o refresco que você deve pedir é o suco de mocochinche (pêssego seco). Ele vem gelado e é bastante doce, mas nada a ver com suco de pêssego desses que vêm em caixinha.

Peça para colocarem um mocochinche dentro do seu copo para experimentar depois (:

O suco é esse aí de baixo:

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Nos dias de frio, invista em uma mazamorra (vitamina de chicha morada com especiarias) saída de uma panela fumegante. A chicha morada é um milho roxo que existe pelos Andes. A vitamina é preparada com o suco desse milho, canela, cravo e algum espessante (de milho? Não sei) que a faz um caldinho um pouco encorpado.

Ainda que as comidas prontas vendidas na feira me deixem muito feliz, o que mais gosto são as barracas-mercadinhos, onde você pode encontrar ingredientes deliciosos para fazer receitas andinas em casa. Batatas de tipos que você nunca tinha ouvido falar, milhos de todos os tamanhos e cores, quinua bem barata (nunca mais compre no supermercado!), pacotinhos para fazer o refresco de chicha morada (adicione água, limão e gelo e seja feliz no verão ou engrosse a mistura e ferva para aquecer-se no frio) e… meus preferidos, os temperos! Ají (pimenta andina) panca ou amarillo em pó e locoto (pimentão, não é picante) têm um sabor especial que incrementam qualquer tipo de cozido. Também estão à venda tecidos de algodão, alpaca e llama, flautas, cerâmicas e outros artesanatos interessantes.

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Também são encontradas barraquinhas de telefônicas e empresas que transferem dinheiro internacionalmente, DVDs e CDs piratas com os ritmos mais bombantes dos Andes, móveis e eletrodomésticos usados e todo tipo de miudeza.

Está afim de um corte de cabelo boliviano? Alguns cabeleireiros têm suas barracas instaladas com os cortes mais pedidos da comunidade, desde a simples “cuia” até mullets muito criativos.

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Do lado de fora da feira sempre há uma porção de empregadores (procurando bolivianos para trabalhar com confecções e restaurantes) – não sei como são as condições dessas empresas, mas sinto um calafrio quando vejo as kombis deles por ali. De qualquer forma, a feira é um ponto de encontro certeiro para os imigrantes que acabaram de chegar de seu país natal. Um lugar onde eles encontram os amigos, passeiam com as crianças, cantam, dançam, comem e (quem sabe) conseguem emprego e lugar para morar a partir dos contatos feitos ali.

Só existe uma barraquinha de souvenirs (sinal de que a feira é true mesmo, de bolivianos para bolivianos), mas consegui achar a llamita que queria colocar como chaveiro (:

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Serviço básico:

Feira Kantuta

Todo domingo, a partir das 11h da manhã, na Praça Kantuta. Rua Pedro Vicente, 600.

Vá de metrô: desça na Estação Armênia (linha azul) pela porta da rua Pedro Vicente e siga-a até chegar à Praça. Não tem como errar, apenas siga o som da música boliviana.

5 comentários em “Feira Kantuta, um pedacinho da Bolívia em São Paulo”

  1. Excelente!!! Obrigada pela info e parabéns pelo belo post! Super interessante!
    Não sabia que a culinária boliviana tinha tanto a ver com a peruana (anticuchos) e a colombiana (sancocho).
    Visitarei a feira na primeira oportunidade!
    Abraço da vizinha de viajosfera,
    Deb

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