Caminhada pelas nascentes e mananciais urbanas do Rio Água Preta, bairro Pompeia/SP

Matar um rio é tarefa difícil, ainda que as prefeituras, governos estaduais, federais, construtoras e outros agentes poderosos se esforcem em canalizar, cobrir, controlar suas águas. Os rios são mais poderosos do que concretos e decretos. São uma entidades vivas que escorrem, infiltram, batem até que furam.

 

Basta chover mais um pouco para que as avenidas que antes eram rios voltem a se encher de água, como Sumaré, Pacaembu, Amaral Gurgel, 9 de Julho e 23 de Maio. Quando deixarmos de existir no planeta (ou pelo menos quando pararmos de intervir e poluir), os rios voltarão a fluir livres pelos seus cursos naturais, escorrendo das serras até o mar.

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O rio Água Preta passa debaixo do SESC Pompeia, essa é a “piscina” embaixo do SESC para conter suas águas quando chove muito

 

De vez em quando os rios encontram ativistas que estão dispostos a ajuda-lo a seguir vivo, do jeito que der. São Paulo tem cerca de 300 rios principais catalogados, mas se formos considerar riachos e ribeirões, eles somam entre 1500 e 1800, afirma Adriano Sampaio, caçador de rios, criador do projeto Existe Água em SP.

 

Há vários anos, Adriano começou a procurar pelos rios escondidos da cidade e se envolver em ações pela conservação dos mananciais de São Paulo. Em 2014, ele largou seu emprego (não relacionado a causas ambientais) para se dedicar 100% ao ativismo e hoje vive na aldeia Itakupé, de índios Guarani, que vivem na região do Jaraguá. Sim, São Paulo tem aldeias indígenas em seu perímetro! Essa cidade é um universo <3

 

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Adriano Sampaio mostra o mapa do nosso trajeto do dia

 

Neste fim de semana, participei de uma caminhada pelo Córrego Água Preta, da foz às nascentes. Um rio urbano que nasce, veja só, bem do lado da minha casa em São Paulo, passa debaixo do Sesc Pompeia e deságua no Rio Tietê.

 

Participaram da caminhada alguns índios Guaraní que hoje vivem na região do Parque do Jaraguá e foi muito legal caminhar com eles, especialmente com as crianças que iam conversando com a gente no caminho, me levando pela mão, brincando nas bicas e lagos do passeio e perguntando se meu celular tinha joguinho (não tinha..!).

 

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A caminhada foi “da foz à nascente”, partindo do Sesc Pompeia até a Praça da Nascente, uma praça-parque pertinho do metrô Vila Madalena. Foram descobertas 8 nascentes na praça e várias pessoas passaram a cuidar dela, conseguindo inclusive barrar (pausar…) a construção de um edifício de 22 andares e 3 garagens subsolo em frente a ela, que drenaria as águas das nascentes, impedindo-as de seguir seu curso para formar o Rio Água Preta.

 

Os ativistas construíram um lago na praça, concentrando as águas das nascentes, onde introduziram peixes (que inclusive comem as larvas dos mosquitos, prevenindo contra a dengue), plantas aquáticas e sapos. O projeto Cerrado Infinito também plantou diversas árvores nativas do Cerrado, o que significa que em alguns anos a praça estará bem florida de ipês coloridos durante o inverno! Outras melhorias na praça foram realizadas pelos próprios moradores da região e frequentadores do parque.

 

Nas trocas de estação do ano, são realizados festivais da Praça da Nascente, que podem ser frequentados por todos – participei desse último, para entrada da primavera, a parada final da nossa caminhada pelo Rio Água Preta.

 

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Lagoa criada pelo projeto Existe Água em SP na Praça da Nascente

 

Durante o passeio, aprendemos a identificar mananciais escorrendo para fora das calçadas – o que acontece é que os prédios encontram esses cursos d’água quando estão construindo sua fundação, garagem, etc, e bombeiam a água para fora. Fica parecendo que tem um cano eternamente estourado na rua, mas na verdade é a nascente tentando chegar aos cursos d’água. Também passamos por algumas áreas onde é possível ver o Rio Água Preta, hoje canalizado, correndo pelos cursos de concreto onde a cidade os confinou.

 

O rio passa rápido, pois ele não passa mais sobre a terra, onde a água voltaria parcialmente para o solo, filtraria um pouco da sujeira e se manteria viva com plantas e animais. A canalização também faz com que as enchentes sejam mais frequentes, nenhuma surpresa para São Paulo, cidade que inunda em épocas de chuva.

 

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Encontre o rio canalizado: ache esses bueiros onde está escrito “águas pluviais” e ouça o que se passa lá embaixo. Se a água correr em ritmo constante, tem um rio que passa ali.

 

Gravei diversos vídeos e fotos durante a caminhada e aqui está o nosso passeio completo:

 

 

Além de aprender pra caramba sobre rios e me inspirar no ativismo desses e outros projetos que buscam tornar a cidade mais agradável para se viver, eu também AMEI conhecer partes da cidade que eu não tinha ideia que existiam! Na Travessa Roque Adóglio, uma pequena rua para pedestres onde antes passava o Rio Água Preta, diversos artistas interviram e transformaram o espaço. MUITO legal!

 

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Você conhece os rios que passam debaixo da sua cidade? Fica aqui o convite para observar mais a natureza no meio do concreto e lutar para que mais espaços naturais se espalhem por aí 🙂

 

Hospede-se em São Paulo

A cidade é MUITO grande, então a região de hospedagem deve levar em conta quais serão os bairros que você irá percorrer 😉

Opções em Pinheiros/Vila Madalena

Opções na região da Paulista

Opções no Centro/Santa Cecília

 

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11 comentários em “Caminhada pelas nascentes e mananciais urbanas do Rio Água Preta, bairro Pompeia/SP”

  1. Que post incrível!! Estava aqui enviando partes dele e comentando com o marido por mensagens e enviei o link todo, porque achei demais conhecer isso que eu não sabia. Gente, que linda não seria a cidade com os rios protegidos né? Uma pena…

    1. que bom que gostou, Michela 🙂 seria realmente muito melhor se os rios estivessem expostos… quem sabe um dia..? Não podemos deixa-los esquecidos debaixo do chão! É preciso incomodar o poder público, resistir e abrir brechas onde der 🙂

  2. Muito legal, Lívia! Acompanhei pelo Instagram e achei o máximo essa caminhada. Caminhar em grupo, com a ‘benção’ guarani deve ter sido super especial. Esse nosso bairro é lindo demais! Beijo.

  3. Pingback: Água Preta e as ruas da Pompéia – Existe Água em SP

  4. Amo essa música da Luiza Lian:

    “Aaaalôôô Tietê, Água Preta, Iquiririm
    Minhas Iarinhas andam cantando
    Suas ladainhas para mim”

    Fui procurar mais sobre o Água Preta e cheguei aqui. Adorei o relato! Me lembrou o documentário Carioca era um Rio do Simplício Neto, que mostra o nível de irracionalidade do “desenvolvimento” urbano.

  5. Pingback: Água Preta e as ruas da Pompéia – Um canceriano sem lar.

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