Sobre ser uma turista brasileira na Tailândia

 

Não me entendam mal, estou amando muito a minha viagem pela Ásia e as pessoas que tenho conhecido pelo caminho. Mas é preciso dizer que as experiências que compartilhamos juntos foram percebidas de maneiras muito diferentes, principalmente devido ao fato de que a maioria dos meus novos amigos vem da Europa.

 

Pra começar, a Tailândia é um país tropical (abençoado por deus e bonito por natureza). Isso significa que a paisagem natural geralmente é muito parecida com a do quintal lá de casa em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Algumas espécies da Mata Atlântica estão faltando e algumas flores são novidade, é claro, mas a sensação é a mesma (e reconfortante).

 

As frutas também são as mesmas que as nossas, com simpáticas adições, como a dragonfruit, ou pitaya, o rambotam e algumas espécies que se parecem com a jaca (argh!). O maracujá é pequeno e roxo por fora, mas tem o mesmo sabor que o nosso maracujá azedo, as melancias são menores e mais redondas, algumas delas têm a polpa amarela ao invés de vermelha, e o abacate é um pouco menor do que os nossos – e os gringos acham que eles são enormes!

 

Enquanto argentinos, canadenses, estadunidenses e europeus se cansam das refeições cheias de arroz todos os dias, eu sinto falta do molhadinho do feijão de vez em quando e estranho o curry, que pra mim era um pó amarelo, mas na verdade é muito mais variado em termos de cores, texturas e sabores. Aliás, achei feijão preto num mercado em Chiang Mai hoje – já dá pra considerar viver por um tempo na região e abrir um restaurante de feijoada!

 

Como estou por aqui na estação seca, pode ser que eu esteja sendo injusta, mas as cachoeiras não me impressionaram até agora (pra não dizer que fiquei decepcionada). Meus amigos gringos que nunca tinham visto uma queda d’água na vida se divertiram bastante em poças que ninguém que já passeou pela Serra do Cipó se incomodaria em parar para tirar uma foto. Não fiz uma investigação completa das praias, mas as achei bonitas como as do nordeste brasileiro. Talvez o mar seja mais verde/azul do que na Bahia, mas a única vantagem de verdade foi a falta do axé music tocado a todo volume.

 

Quanto mais eu viajo, mais percebo como nosso país é realmente lindo. Quando voltar, quero realizar a sonhada travessia Manaus-Belém do Pará pelo Amazonas que tem sido adiada pra mais tarde e quero também conhecer Bonito e o sul do Brasil.

 

Mas isso fica pra depois, voltemos a falar da Tailândia.

 

As paisagens que realmente me tiraram o fôlego por aqui geralmente têm dedo humano: o pôr do sol atrás de um templo budista cheio de espelhos, barcos coloridos descendo lentamente um rio que corta uma cidade ao meio, um festival de dança tailandesa tradicional em uma escola primária, o canto de monges durante seus momentos de oração, elefantes servindo como meio de transporte (muitas vezes isso me deixa triste e fascinada ao mesmo tempo).

 

Amo as áreas desérticas, as planícies cultivadas de arroz, os costumes alienígenas aos nossos, o alfabeto que mais parece um monte de minhoquinhas, a língua que mais parece um canto, os monges alaranjados passando pelas ruas.

Ah, e o manjericão-limão – agricultores brasileiros, importem essa planta!

 

Disse tudo isso para reclamar da falta de guias de viagem feitos por brasileiros sobre essa parte do mundo.

 

Na verdade, faltam opções de guias de viagem brasileiros no geral, mas a literatura escrita em português sobre a Ásia e África é ainda menos extensa do que a voltada para a Europa, Estados Unidos e América Latina.

 

Se tratando de guias para mochileiros, rá, nem sonhando.

 

O Lonely Planet e outros guias feitos por pesquisadores de climas temperados muitas vezes falham em apontar nuances que são importantes para nós, tropicalistas, e se perdem na descrição de maravilhas que, sejamos francos, nosso país faz igual ou melhor – ou seja: não são tão “uau” para nós.

 

Tudo bem, não existem tantos brasileiros passeando por aqui, mas se não há guias de viagem, menos gente se anima a viajar – o velho Dilema Tostines. E qualquer brasileiro fazendo o que muitos turistas europeus fazem por aqui é visto como a reencarnação de Marco Polo (esse sim, um maluco do bem) pelos amigos em casa.

 

Por que não vamos tanto para as bandas de cá?

 

As pessoas são amáveis, a estrutura das cidades é relativamente boa (padrões bolivianos, mas enfim, nada impossível e que um pouco de paciência não resolva), existem muitas rotas incríveis para turistas com todo tipo de interesses, a cultura local é fascinante e tudo pode sair muito barato – exceto a passagem de avião.

 

Um mês é mais que suficiente para percorrer toda a Tailândia sem muita pressa e vai custar menos que uma viagem-desespero pelas “principais capitais europeias”, dessas oferecidas por agências de turismo.

 

Pelo menos considere a Ásia nas suas próximas férias. Ela não é tão complicada quanto parece.

E vale.

Vale a pena.

 



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10 comentários em “Sobre ser uma turista brasileira na Tailândia”

  1. moça, vc é sensacional. to maravilhada com os teus relatos. eu canso de ler sobre viagens pra europa,austrália e até nova zelândia e penso sempre: nao tem nada na Ásia que preste? Impossível! Acho que as pessoas são muito fresquinhas e não tem realmente a alma mochileira que vc carrega em si.A alma, o olhar antropólogico que aprendi na faculdade de Ciencias Sociais: de tentar entender o mundo do outro com o olho dele.

    Continue assim.Abraço.

    1. 🙂 obrigada, Aline! Na verdade eu acho que nem precisa ter uma alma tão mochileira pra vir pra Ásia.. Quer dizer, Tailândia e Hong Kong, pelo menos, são muito fáceis! Mesmo! Tem tanta patricinha europeia fazendo esse caminho, rs

  2. Pingback: Pagando língua na cachoeira de Kuang Si « eusouatoa [mochilão2.0]

  3. Amiga, tô finalmente me atualizando dos seus posts e devorando toda a sua experiência! Conte comigo pra fazer a travessia Manaus-Belém qd voltar!
    E quem sabe esse guia não se torna um projeto pra desenvolvermos, num futuro?!
    (curti e entendi a referência à Bolívia nesse post! <3)

  4. A Tailândia é um lugar que quero muito conhecer! E nessas horas é muito vantajoso ter nascido em um país tropical, mesmo que algumas coisas nos surpreendam menos que para os europeus (por exemplo, tenho amigos que quando estiveram no Brasil não encontraram abacate no mercado pois não reconhecerem, já que aqui eles são do tamanho de uma laranja hehe), mas somos menos estressados com mosquitos, com a humidade (que tanto me faz falta) e muitas outras coisas que nem pensamos e que eles se preocupam horrores hehe

  5. Pingback: É seguro viajar para a Tailândia? Quanto vai custar? Veja aqui

  6. Pingback: Fui Sozinha: Chiang Mai (por Lívia Aguiar) - How to Travel Light

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