Guanajuato: cidade de esquinas, ladeiras e estudantes

Qualquer semelhança com as cidades históricas mineiras não é mera coincidência. Os mesmos fatores que fazem Ouro Preto ser o que é hoje em Minas Gerais contribuíram para a construção de Guanajuato: solo rico em minerais preciosos na época colonial (até hoje), terreno montanhoso, igreja (e culpa) católica forte e universidade prestigiada.

 

Só que Guanajuato é Ouro Preto concentrada.

Suas ruas são muito, muito estreitas, algumas delas tão estreitas que não passa mais de uma pessoa por vez. Suas ladeiras são tão íngremes que pedem escadas em muitos trechos (essa não é uma cidade acessível para cadeirantes). O Callejón del Beso é uma dessas micro-ruelas tão estreitas que duas sacadas em casas de lados opostos da rua quase se juntam. Reza a lenda que uma menina rica que vivia em uma das casas se apaixonou por um menino não tão rico assim. Ele se hospedou na casa em frente à dela e se beijavam, cada um em sua sacada, quando o pai da moça os surpreendeu e a matou. Aqui é México, cabrón!

 

Seus estudantes concentram-se em cafés durante o dia e bares durante a noite – quando vão à Universidade? Nas horas vagas. Seus artistas cantam, tocam e interpretam as tradicionais Callejonadas para os turistas e outros tipos de performances, como mariachis, bandas e projetos solo. Em outubro acontece o Festival Cervantino, quando a música, o teatro, a dança, as artes visuais, o cinema e a literatura tomam conta de toda a cidade! É um dos cinco festivais culturais mais importantes do mundo, que já recebeu B.B. King, Ella Fitzgerald, Martha Graham Dance Company, Leonard Bernstein, o Ballet Bolshoi, Pina Bausch, Sankai Juku, Goran Bregovic, Zubin Metha, Akira Kasai e Meno Fortas. Não é pouco, veja.

 

Suas ruas já viram duas grandes inundações, sendo que a segunda em 1º de Julho de 1905, fez com que os rios que passavam pela cidade fossem finalmente entubados: seus leitos se tornaram túneis viários para os carros. Aliás, vale contar que a Guanajuato de hoje é na verdade a sua terceira versão, as duas anteriores foram soterradas pelas grandes inundações. E a cidade volta a se construir, teimosa, incrustrada na montanha.

 

Sua atividade econômica principal é o turismo, que divide espaço com os estudantes principalmente universitários. Essa combinação resulta em uma sociedade transitória, onde quase todos estão de passo (por dias, semanas, meses ou anos) e à procura de novos amigos. São pessoas sorridentes, abertas, perguntadeiras, piadistas, leves, curiosas. Uma cidade sem famílias grandes almoçando no domingo, mas cheia de festa de segunda a segunda.

 

O acolhimento compensa a falta de luz natural dentro das casas. Moradias, igrejas, lojas, museus, edifícios da universidade, todos são cravados nas montanhas, com poucas janelas, para conservar a temperatura interna ideal: nem quente demais quando faz sol, nem frio demais quando o vento murmura pelas ruas.

 

Quem a vê pela primeira vez acha que a cidade está vazia à noite. Depois que termina o horário das callejonadas, todos vão para dentro dos bares e restaurantes, cada um tem a sua hora de pico.

 

Os habitantes de Guanajuato fazem peregrinação noturna, como na Espanha: jantar, um bar, outro bar com um tipo de música, mais outro bar com música diferente, boate apertada, lanchinho da larica, salão de salsa, pá-pá-pá, sem acomodar-se. No final, cambaleamos ébrios de volta pra casa, amanhã recomeça.

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