Tive a sorte de estar na capital dinamarquesa bem durante o maior festival de jazz do país. Por causa dos sons nas ruas e nos bares da cidade inteira, vi Copenhagen dançando pelas ruas. A cidade é quieta e ordenada, como os escandinavos sabem fazer muito bem. Mas há uma vida pulsante, muitos jovens levando seus filhos para passear de bicicleta, obras de renovação e extensão do metrô quebrando tudo em diversos pontos do centro, uma preocupação com o belo, seja na arquitetura, na arte, na decisão dos lugares, nas roupas, nas bicicletas bem cuidadas.
Uai, jazz é um gênero musical inteiro, com variações que vão músicas de bailinho pra dançar junto, trilha pra fazer drama na porta chorando com a maquiagem do olho escorrendo, temas daqueles de acompanhar com a cabeça e o pé até uns barulhos experimentais para entendidos do assunto. Em qualquer uma das variações, uma coisa que não pode faltar é a alma dos músicos, espalhada pelas notas musicais em diferentes densidades.
– Se algum expert em música me lê agora morre do coração ou me manda uma carta com antrax. Jazz não é bem isso, tá, mas me dá um desconto de leiga –
Meu coração pende para o lado do improviso rapidinho que tem uma vida especial nas performances ao vivo. Em um pequeno restaurante argentino em um lugar hipster (ok, todo lugar é hipster em Copenhagen) da turística região de Nyhavn, assisti a uma banda de jazz cigano – a trilha sonora deste post: Vendredi soir swing.
Carregue o Myspace deles e tente ficar na cadeira pra terminar de ler sobre Copenhagen.
Bom, a cidade.
Cheguei de carona com um menino de 19 anos que havia deixado a namorada em Rostock, Alemanha. Muito gentil, me deixou bem na porta da casa da minha host via couchsurfing – Roxanna uma arquiteta estadunidense fazendo uma parte do mestrado na Dinamarca. Ela mora com um casal de italianos e me senti bem confortável nessa babel, que ficou completa quando outra couchsurfer de Israel chegou na casa. Preciso dizer que as noites no apartamento rendiam conversas interessantes e animadas?
Aulas de história
O lado histórico de Cop foi a primeira tarefa a fazer na cidade. Seguindo a dica da Roxanna, fui ao tour guiado grátis que me fez bater uma boa perna pelo centro. O esquema existe em várias cidades europeias e você só põe a mão na carteira no fim, em forma de gorjeta para o guia. Interessou? Em Copenhagen, encontre o pessoal de roupa vermelha todos os dias na frente da prefeitura às 11h e às 13h.
O tour cobre boa parte do centro, com histórias da Dinamarca dos vikings, dos reis quase todos chamados Christian, da ocupação nazista e do James Bond local, do Hans Christian Andersen e do Carlsberg (esse da cerveja mesmo). Em 3 horas essa história toda passou corrida, mas nunca deixou de ser interessante. Um grande mérito da organização do tour e da minha guia, a quem só dei 40 kroner (que compram duas coca colas de 500ml), coitada, porque viajo assim com o orçamento apertado.
Não está incluído no tour, mas a visita à estátua da Pequena Sereia é obrigatória! Acho que falta uma referência literária maior ao lugar, sei lá – uma citação do texto de Andersen, qualquer coisa, mas mesmo assim é legal.
Relax
O tour também foi bom para conhecer outros turistas, companhia para o segundo programa na cidade: conhecer o território paralelo de Christiania. Hippies e outros amantes da vida livre se refugiam da vida ultra ordenada e limpa da Dinamarca nesse bairro/país/parque que pratica as próprias leis.
O comércio de maconha e haxixe é livre e tem até uma feira permanente chamada Green Light District. Sentei-me em um muro em frente à entrada de Christiania para observar quem passava: hippies que claramente moram ali, turistas, estudantes e “quadrados” que entram furtivamente em busca da erva que eles provavelmente advogam contra em discussões públicas.
Mais interessante do que a legalidade de drogas leves é o resto que compõe Christiania. Os moradores ocuparam galpões antigos e construíram casas como lhes convinha (uma se parece com uma casa da árvore amazônica, sem paredes), o mercado vende todo tipo de itens hippies importados da Tailândia e da Índia, o parque é um oásis verde e bem cuidado, a comida é mais cara lá dentro do que no resto da cidade (um lucro que aproveita a larica da galera, hahaha). As leis básicas são: estão proibidas as drogas pesadas, a violência e fotografar. Especialmente na região do Green Light District. Pois é, nada de fotos.
Me arrependo de não ter tomado um banho nos vestiários coletivos. Imagina a experiência?
Comer, comer, comer
A Dinamarca contemporânea é a casa do design, do estilo de vida sustentável e da gastronomia.
Alimentos gordurosos e com açúcar sofrem mais impostos, todo mundo (mesmo!) anda de bicicleta, quase não há sacolas de plástico.
Junta esse sentimento eco com design e você tem pratos e talheres descartáveis de madeira nos restaurantes, cadeiras e mesas feitas com pneus e carretéis reaproveitados, lustres criativos. E não quero nem começar a falar de todos os objetos de decoração que já moram na minha casa imaginária e nas roupas que estão guardadas no meu closet imaginário dentro dela.
Prato de papel, talheres de madeira, comida dinamarquesa com nome tão complicado que não lembro mais nem achei na internet. Hmmmm!
Vamos falar de comida, mais acessível e que não pesa na mochila (gaste as calorias pedalando ou andando pela cidade). O smørrebrød, sanduíche aberto, é o prato típico mais fácil de encontrar. Honestamente, acho essa tradução muito ruim porque, pra mim, sanduíche pressupõe dois pedaços de pão com um recheio. Eu traduziria smørrebrød para bruschetta – uma torrada com cobertura. Mas ele é mais pesado que isso… e não é gratinado no forno… Enfim, qualquer que seja o nome, o trem vem em vários sabores e é geralmente bom. Comi muitos pratos com batata e fiquei longe dos com arenque fermentado, mas hoje me arrependo – vai que o peixe podre é bom. (????) Fica pra próxima. Segui as dicas gastronômicas do Seth Kugel, na sua coluna no NYTimes.
Museu, biblioteca e parquinho
Completei meu tour visitando algumas atrações culturais.
O Museu Nacional (foto acima) é grátis e apresenta uma mostra muito bonita e interessante de achados arqueológicos que contam a história da Dinamarca desde a idade da pedra. Existem outras exposições, mas a de arqueologia era tão grande e legal que passei 3h30 nela e depois já não queria ver mais nada de museu. É um lugar onde definitivamente quero voltar!
Diamante Negro – parece nome de navio pirata, mas é biblioteca
Depois, fui a uma das bibliotecas mais bonitas do mundo, a Black Diamond, ou Biblioteca Real de Copenhagen. Putz. Até quem não curte arquitetura vai ficar impressionado com o edifício e a vista lá dos últimos andares. Estudar nela deve ser delicioso, as cadeiras parecem ser muito confortáveis.
Por último, comprei um ingresso para o Tivoli, o segundo parque de diversões mais antigo do mundo. O primeiro também é dinamarquês e fica em outra cidade. O ingresso só dá direito à entrada no parque e não me animei a pagar para andar em nenhum brinquedo, mas se tivesse tempo e mais uma grana escolheria a montanha russa de madeira, o brinquedo mais antigo do parque, da época de sua fundação!
Música
Entre esses programas todos que descrevi acima fiz várias paradas em shows de jazz. Diversos artistas, locais abertos e fechados, ritmos diferentes dentro do mundo que é o jazz, um fator em comum: muita, muita gente disposta a ouvir e aproveitar, mesmo debaixo de chuva.
Tenho a maior vontade de ir a Copenhagen! E, coincidentemente, também escrevi um post há um tempo sobre os free walking tours: http://vontadedeviajar.wordpress.com/2012/03/14/free-tours-contadores-de-historia/ – eles realmente mudaram as minhas viagens pela Europa!