Oslo, a Cidade-Tigre-Simpático

Oslo é a mais tranquilinha das capitais escandinavas – e arriscaria dizer a mais tranquilinha das capitais da Europa.

A cidade tem o apelido de Cidade Tigre, Tigerstaden, mas quem conhece sabe que ela não tem nada de periogoso ou arisco.

Olhando de longe, não há grandes motivos para ir até lá. Oslo não parece velha o suficiente para uma cidade europeia (ainda que tenha sido fundada no século X); não tem escritores, cineastas, pintores ou músicos internacionalmente famosos que a elevaram ao patamar de cidade-sonho; não foi arrasada por guerras e se reinventou ou fervilha com o mais mais do design escandinavo. E é muito cara.

O governo tem se esforçado na parte arquitetônica e está construindo grandes prédios modernos e bonitos na orla do fiorde de Oslo para abrigar museus e outros espaços culturais. Mas não acho que essas obras vão fazer da cidade um polo turístico. A Casa da Ópera é linda e vale a visita, mas… e aí? Vini, vidi, vinci.

Operahuset lindona

Compreenda: a Noruega era um dos países mais pobres da Europa até eles encontrarem petróleo na década de 1960, por isso a capital é bem modesta em prédios antigos grandiosos (acho que não tem nenhum prédio grandioso mesmo além da Casa da Ópera, que é contemporânea e não chega às dimensões físicas da Casa da Ópera de Copenhagen). Os reis vivem modestamente em um palácio do tamanho de uma mansão média em São Paulo. E a catedral da cidade é bem bem bem bem menor do que igrejas não-catedráticas de Paris.

Vou te contar o que é mais legal em Oslo: 

É uma capital europeia dessas que têm tudo que uma capital europeia tem em termos de cultura e tecnologia, só que com FLORESTA. A vida selvagem é logo ali, do lado das ruas cheias de casais hipsters passeando com seus bebês.

Você pode ir até uma das ilhas do fiorde, curtir um sol (quando há) e um banho de mar gelado na borda de uma florestinha, e depois ir jantar em um restaurante de comida africana no bairro fervilhante de Grünerløkka e esticar uma baladinha por lá com bandas desconhecidas ao resto do mundo (o must do hipster).

Fotos foram censuradas por conterem altos níveis de topless sem autorização de imagem. Usem a imaginação. Para ajudar, descrevo a praia de pedras da ilha de Hovedøya: uma floresta de coníferas permeia a orla de pedras grandes e pequenas molhadas por um mar azul e gelado. Entre e sobre as pedras, uma vegetação rasteira composta de gramíneas e musgo formam colchões macios onde os banhistas estendem suas cangas e torram sob o sob subtropical quase ártico. Abundam hipsters de óculos geométricos, livros existenciais e pouca roupa (ninguém liga para o último detalhe).

Ou você pode ir até o Vigelandsparken para um dia no meio das estátuas muito loucas do escultor Vigeland (leve ingredientes para um churrasco na grama e disposição pra posar com as estátuas) e passar a noite acampando no camping grátis na ilha de Langøyene. (sim, eu disse GRÁTIS).

O legal do Parque Vigeland é que você pode zoar à vontade com as estátuas. E pode pisar a grama também. Ah, a liberdade escandinava…

Piquenique no parque: compre uma churrasqueira descartável, salsichas, pão e cerveja no supermercado e não tenha medo de ser feliz no low budget tilelê 🙂

Atrações turísticas “normais”

Sentiu falta de uma catedralzinha pra visitar? A Catedral de Oslo pode ser pequena (e aconchegante, uma característica importantíssima para os noruegueses), mas ela tem a Última Ceia mais legal de todas:

João voando no colo de Jesus, um apóstolo não-identificado fazendo ombro queixo na frente da mesa com uma garrafa de vinho na mão, um mega-pernil no centro da mesa, um ar de conversação intensa e Jesus botando ordem no recinto com dois dedinhos pra cima: uhummmm..! Talvez seja mais engraçado ao vivo.

Está afim de sacar de qualé dos vikings? Vá ao Museu do Navio Viking. Na verdade, três navios que foram encontrados em  túmulos e dois deles foram reconstruídos (eles estavam esmagados, partidos em pedacinhos, dentro do túmulo) e são impressionantes!

Barco viking e suas curvas sexy.

Se só tiver grana pra uma entrada turística, porém, eu recomendo uma visita ao Museu do Folclore Norueguês, que fica na mesma Bigdøy, a “ilha dos museus” que na verdade é uma península.

Casas de diversos períodos da história da Noruega foram desmontadas e remontadas nesse museu a céu aberto. A decoração dentro delas reproduz os móveis de cada época, os guias do museu usam roupas tradicionais de diversos períodos da história do país e há até artesãos fazendo as coisas do jeito antigo. São escultores em madeira, ceramistas, ferreiros, doceiros e – atenção – cozinheiros fazendo o tradicional lefse, um pãozinho gostoso que você pode comprar quentinho feito na hora e comer com manteiga. Há também apresentações de danças e músicas tradicionais e uma programação especial para o verão.

Lefse é bom demais, principalmente quentinho saindo do forno a lenha. Na falta, o comprado no supermercado sabor canela fica bom depois de uma aquecidinha no forno.

Oslo é, enfim, aconchegante, cozy, confortável e sossegada. Diferentemente de suas primas escandinavas que visitei (Estolcomo e Copenhague), a bicicleta ainda não faz parte do cotidiano, talvez por causa dos morros ou da gasolina barata. O transporte público funciona bem, é claro, mas andar à pé é muito agradável quando o tempo colabora. E é uma cidade pequenininha, como já disse no começo.

O horror do atirador maluco em 2011 ainda é sentido nas obras de restauração do prédio do governo que foram bombardeados e nas novas medidas de segurança implementadas ao redor deles, mas as pessoas parecem se sentir seguras – as lojas de departamento nem colocam alarme anti-furto nas roupas que vendem!

Rawr.

*A imagem de abertura do post é de um dos bueiros de Oslo. Eles são decorados com o selo da cidade, o santo Hallvard, que também é seu patrono.

2 comentários em “Oslo, a Cidade-Tigre-Simpático”

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