A apenas algumas horas de carro da Cidade do México está a Reserva Ecológica Santuário das Borboletas Monarca, onde centenas de milhões de borboletas nascidas no Canadá e norte dos EUA se concentram todos os anos, de novembro a março.
É uma migração impressionante, de mais de 7 mil quilômetros (a segunda mais longa migração de insetos, perdendo pra uns gafanhotos na África). As borboletas monarca que fazem a migração vivem por 9 meses, enquanto as suas descendentes que nascem na primavera e no verão só vivem cerca de 3 a 4 semanas. Durante a longa viagem, seu corpo se comporta como se estivessem hibernando, mas elas continuam se movendo (é chamado de hibernação cinética, feito raro na natureza). É uma coisa de louco que uma espécie que parece tão frágil consiga fazer essa viagem todos os anos – e não é só viagem de ida, elas vão e voltam, para se reproduzir e morrer lá no norte!
As borboletas monarca chegam ao México bem na época do Dia dos Mortos, por isso elas também são um símbolo importante para a festa que celebra a volta dos espíritos já falecidos por alguns dias para celebrar com seus parentes e amigos queridos. Acreditava-se que as borboletas levavam as almas do submundo para o nosso mundo para festejar.
Estive no México de outubro a abril de 2014 e 2015, vivendo a maior parte do tempo na Cidade do México. Por isso, não poderia deixar passar a oportunidade de ir visitar as borboletas turistas canadenses em seu resort de férias!
A caminho do encontro com as borboletas! Da esquerda pra direita: eu, David (Austrália), Raphaelle (França), Sine (Alemanha) e Pedro (Brasil, Porto Alegre)
Enquanto trabalhava em um hostel na Cidade do México, conheci muita gente bacana do mundo todo. No final de janeiro, quando o tempo esquentou um pouco e a possibilidade de ver as borboletas em plena atividade estavam um pouco maiores (no frio elas ficam paradinhas no alto das árvores), coincidiu que um grupo de pessoas muito legais e animadas estava hospedado por lá. Convidei a galera para dividir o aluguel de um carro para fazermos essa aventura.
Conforme pesquisas pela internet afora, decidimos alugar o carro nas agências próximas ao aeroporto internacional da Cidade do México, onde é possível escolher diferentes agências e pesquisar preços sem muito deslocamento. Nossos critérios foram preço baixo, ter GPS e a possibilidade de devolver o carro perto do hostel onde estávamos.
Alugar o carro foi fácil, o difícil foi sair da Cidade do México e alcançar a estrada correta para o estado de Michoacán, onde fica o Santuário das Borboletas Monarca! Meu amigo-irmão Lucas Galvão já tinha me falado que alugar carro na CDMX era um desafio, mas juro que não achei que ia ser tão difícil! Muito trânsito, avenidas confusas e informações truncadas no GPS, mas conseguimos depois de 2h, hahaha. Na volta também nos perdemos (colocamos o endereço errado no GPS e fomos parar em um outro município ao sul da Cidade do México), mas deu tudo certo no final.
Paramos para comer no meio do caminho e seguimos até o Santuário. O dia estava bem nublado, então havia o risco de não conseguirmos ver as borboletas em plena atividade.
Vista do alto do mirante no Parque – muitas nuvens, muitas muitas.
O Santuário tem diversas entradas diferentes, todas bem equipadas com restaurantes, lojas de souvernir, guias preparados para levar até o local de observação das borboletas (não é permitido andar pelo parque sem guia) e em alguns pontos há até cabanas onde é possível passar a noite! As cabanas não ficam no meio da floresta onde estão as borboletas, infelizmente.
Os guias são todos nativos da região e é muito interessante ouvi-los falar sobre as borboletas. Para eles, que cresceram com as borboletas passando pelo quintal de casa na sua jornada de ida e de volta, elas são fenômenos normais da natureza, como a chuva e a chegada do verão. Recomendo já pesquisar mais sobre os aspectos científicos do fenômeno, porque eles não têm as manhas da biologia e sim da experiência.
Neste post (em espanhol) há informações detalhadas sobre as 5 entradas no Santuário das Borboletas Monarca, inclusive com mapas e instruções para chegar até lá de carro. Eles falam de 5 santuários, mas na verdade tudo faz parte de uma grande reserva de preservação, tombada como patrimônio da Unesco.
A caminhada até o meio da floresta onde estão concentradas as borboletas é de nível fácil a médio. Tudo é bem sinalizado e a trilha é quase sempre assim como está na foto acima (~suave na nave~) exceto em algumas partes de subida, mas como a altitude é maior, é fácil se cansar. Não precisa ter pressa. Vá no seu ritmo que o guia será obrigado a te esperar (o nosso era meio apressado, hehe). Também é possível alugar cavalos para percorrer a trilha.
Quando chegamos até o local: decepção. Fora as diversas borboletinhas mortas no chão, não havia nenhuma amiga monarca viva à vista. Quer dizer… Foi isso que a gente pensou. Mas logo percebemos que as tais folhas secas das árvores que estávamos vendo eram na verdade as milhares de borboletas concentradas nos galhos para se aquecerem. Pinheiros, como aprendi nas aulas de biologia do colégio, continuam com folhas verdes durante o inverno.
As borboletas estavam paradinhas quando chegamos. Tudo que é marrom no alto das árvores não é folha seca: é borboleta
Nossa sorte foi decidir esperar mais um pouco para ver se o tempo abria. Ficamos de papo, meditamos no meio da floresta, fizemos uma dança inventada pedindo sol e de repente o sol resolveu fazer uma aparição breve – que foi suficiente para colocar as borboletas em movimento!
Como minha câmera não é das melhores, não tenho fotos maravilhosas delas voando, mas aqui vai um vídeo que mostra mais ou menos como elas se comportam quando o sol está aquecendo o ambiente:
Ufa, a espera valeu a pena e a viagem foi longa, mas bem sucedida! Esse som ao fundo no vídeo é o das milhares de asas de borboletas batendo ao mesmo tempo! É uma coisa de louco.
Amigos felizes após uma experiência inesquecível
O sol voltou a se esconder e as borboletas voltaram a se empoleirar nas árvores – era o fim da visita, hora de voltar para a Cidade do México.
É proibido levar borboletas do santuário para casa, mas eu o fiz mesmo assim. Peguei algumas borboletas que estavam já mortas no chão e as guardei no meu caderno. Peço desculpas, mas não me arrependo.
Eu as usei em uma colagem que fiz sobre o Dia dos Mortos, feita também com flores recolhidas em altares de Dia dos Mortos em Oaxaca (festa maravilhosa sobre a qual tem post no blog). As colagens resultaram neste zine aqui:
Saiba mais sobre os zines Flores de Rua, que são um projeto paralelo meu que tem muito a ver com as minhas viagens (por enquanto, tem zine sobre São Paulo, Cidade do México, Bangkok, Laos e sobre o Dia dos Mortos): floresderua.tumblr.com
Leia mais sobre as impressões que tive durante o passeio na minha coluna para o blog da MaxMilhas!
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Hostel 333 – o hostel onde trabalhei na Cidade do México. Excelente localização, preços baixos, festas no terraço.
Hostel Home – hostel parceiro do Hostel 333 – mais calmo e com excelente wifi, hehe.
Opções no Centro Histórico:
Hostel Mundo Joven
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