De rolê por Inhotim e Brumadinho: vivência inesquecível nos quilombos Marinhos e Sapé

Quantos sabem que Brumadinho abriga quilombos, iniciados por pessoas que conseguiram fugir da escravidão da Fazenda dos Martins, antigamente Fazenda Boa Vista, uma das maiores de seu tempo na região? É o tipo de comunidade que a gente imagina que exista, mas que eu ainda precisava conhecer. É difícil encontrar relatos sobre esse período terrível da nossa biografia e gostaria de, por meio do blog, ajudar a espalhar a história de luta e ternura dessas pessoas, para que sejam conhecidas por mais e mais gente.

 

São 4 as comunidades quilombolas reconhecidas pela Fundação Palmares em Brumadinho: os quilombos Marinhos, Sapé, Ribeirão e Rodrigues. Tem ainda Lagoa, Casinhas e Massangano, em processo de reconhecimento oficial como quilombo. São pequenos povoados simpaticíssimos, que tive a oportunidade de conhecer graças ao convite da De Rolê Por Brumadinho por intermédio do Batuque Natividade, projeto de Reinaldo Santana Silva, o Rei Batuque, e sua família, que vivem em Marinhos.

Família Batuque soltando a voz no meio da mata próxima a Marinhos

 

A estrutura garantida pelo governo ao quilombo é pequena, composta por um posto de saúde, escola até ensino fundamental e serviço de ônibus em apenas três horários para Brumadinho e três de de Brumadinho a Marinhos.

 

Chegamos de van em Marinhos e de cara já fomos recebidas com sorrisos e abraços pelo Seu Cambão, pai do Rei Batuque e líder comunitário do quilombo. Ele cumprimentou uma a uma assim que saíamos da van e imediatamente nos sentimos à vontade naquela comunidade adornada de flores por todos os lados.

 

Veja vídeo de registro do nosso dia nos quilombos!

 

 

A comunidade é composta tradicionalmente por camponeses que conhecem tudo da terra onde vivem e, hoje, muitos são também paisagistas e jardineiros empregados em Inhotim.

 

 

Isso lhes dá acesso a uma infinidade de mudas e recursos para combater pragas e contribui para que as ruas, fachadas e jardins do quilombo estejam repletas de flores e outras plantas ornamentais, além, claro, de árvores frutíferas.

 

 

Quando estivemos lá, era época de goiaba, carambola e acerola, que pudemos provar colhidas diretamente do pé.

 

Depois da recepção calorosa, fomos até a casa do Seu Cambão e Dona Leide, que nos serviram um almoço delicioso e simples de frango com ora-pro-nobis, angu, arroz e feijão. Todos os ingredientes são cultivados na horta comunitária mantida pelos quilombolas, fresquinhos e orgânicos!

 

 

Depois de alimentados (impossível passar fome em Minas), saímos caminhando por uma rua, depois uma trilha no meio do mato, depois os trilhos do trem e de volta pra trilha – até chegar a Sapé, quilombo vizinho de Marinhos.

 

No caminho toda pessoa que cruzava com a gente o Rei cumprimentava pelo nome. Eles passavam tímidos, meio desconfiados de ver aquelas pessoas em sua maioria brancas passeando por suas terras. Respeitamos sua privacidade, mas depois que a pessoa passava, Rei nos contava alguma coisa sobre sua história. Fomos, assim, conhecendo instrumentistas, cantores, anfitriões de festas inesquecíveis, paisagistas exímios, católicos fervorosos e outros personagens que habitam as histórias dos quilombos.

 

 

Infelizmente, existe uma rivalidade entre os quilombos, ainda que sejam compostos por parentes de um mesmo grupo, algo que Rei e sua família estão tentando romper com sugestões de realização de festas em conjunto, o que fortalece não só as tradições das festas quanto a afetividade entre os membros das comunidades.

 

 

Avistamos de longe a igreja branca em homenagem a São Vicente de Paula. Ao chegarmos lá, ela estava fechada (será que por causa da quaresma? Esqueci de perguntar), mas foi interessante perceber as construções em pau-a-pique logo em frente, que nos abrigaram do sol enquanto algumas de nós compravam água no bar bem ao lado da igreja. De lá, saímos passeando pelas ruas do quilombo e entabulando conversa com as pessoas que se dispuseram a papear conosco.

Sapé é o quilombo mais antigo de todos e a comunidade de Marinhos se formou a partir de membros de Sapé que se assentaram do outro lado do túnel do trem.

 

Lá na década de 1980, Dona Leide, Seu Cambão e duas viúvas parentes suas (não soube o nome) criaram o grupo “Quem planta e cria, tem alegria”, para organizar a horta comunitária, a festa da colheita e a garantia de subsistência – e quem sabe a venda do excedente para outras comunidades na região.

 

O objetivo da família é que quilombolas juntos possam lutar por seus direitos e manter vivas as tradições do Congado, Guardas de Congo Moçambique e outras festas sincréticas que são passadas de geração a geração. Com o Batuque Natividade, oficinas musicais, de leitura, artesanato, cuidados com a infraestrutura da comunidade e outras atividades, são reforçadas e reescritas as tradições, atualizadas para a contemporaneidade.

 

Fiquei muito interessada em voltar numa época de festa, para dançar e cantar com eles!

 

 

Rei, além de músico, também fabrica instrumentos. Seus tambores são vendidos pelo Ateliê Pele Preta, que também comercializa bonecos de pano de personagens do congado e das guardas de Congo e Moçambique, brincos, colares, bolsas e outras peças bordadas produzidas pelos artesãos do quilombo.

 

E como é a família do Rei Batuque, claro, não podia faltar batuque na nossa vivência! A programação geralmente inclui saída em cortejo da casa de Cambão e Leide até a igreja, mas como era período de quaresma, não é considerado educado sair festejando pela rua. Depois que voltamos de Sapé, cantamos dentro de casa mesmo e ficamos encantadas pela Dona Leide, minha pessoa favorita de toda a viagem, acompanhados pelo tambor do Rei Batuque.

 

 

Tem vídeo da Dona Leide cantando no vídeo que fiz sobre esse dia. Tá aqui (minuto 5’33’’)

É possível agendar a vivência de um dia diretamente pelo Batuque Natividade, que custa 150 reais incluindo transporte de BH bem cedo de manhã e volta à noite para a capital.

 

Também dá pra encaixar a vivência na sua viagem por Brumadinho e Inhotim pela De Rolê Por Brumadinho https://www.facebook.com/deroleporbrumadinho/, como fizemos: o passeio começa às 13h e inclui almoço e traslado de e para Brumadinho, a 80 reais por pessoa.

 

A De Rolê Por Brumadinho também organiza visitas à horta orgânica do assentamento do Movimento dos Sem Terra de Brumadinho! Consulte preços e horários! 

 

Esta última viagem que fiz a Brumadinho foi organizada pela De Rolê Por Brumadinho, agência de receptivo turístico que pode ser contratada para fazer alguns passeios durante a estadia na cidade. Com elas, além de visitar o museu Inhotim, nós conhecemos o famoso e delicioso restaurante Ponto Gê, da chef Genilda Delabrida, fizemos workshop de pão de queijo, visitamos a Cachoeira Carrapatos, em Piedade do Paraopeba e passamos este dia inesquecível nos quilombos Marinhos e Sapé.

 

Confira os posts desses passeios e já programe sua viagem pra Brumadinho!

 

https://wp.me/p45xae-1V2

Onde ficar em Brumadinho

Existem diversas opções de hospedagem em Brumadinho, estes foram os hostels que acolheram nosso grupo durante a viagem:
Hostel 70 – primeiro hostel de Brumadinho, fica bem perto da rodoviária (2 quarteirões, dá pra ir à pé!)

Hostel Moreira – hostel numa casa um pouco afastada da rodoviária. O café da manhã é super farto e tipicamente mineiro: muitos bolos, pães de queijo, queijo, geleias…

Sobre a viagem

As empresas e guias parceiras da viagem foram:
De Rolê Por Brumadinho (no instagram @derole_por_brumadinho)
BrumaVip Turismo – transporte de BH até Brumadinho com uma van super bacana
Guia de InhotimJunio César nasceu no bairro onde hoje funciona o museu, trabalha há 10 anos com a Instituição (desde quando era só uma fazenda do Bernardo Paz). Junio é especializado em botânica e arte contemporânea e guia formado pelo SENAC @juniocesarguia
Jantar inesquecível no Ponto Gê <3 @ponto_ge_inhotim
Vivência nos quilombos Marinhos e Sapé @reibatuque
Workshop de pão de queijo na Casa da Horta @casadahorta53
Pub Crawl @pubcrawlbrumadinho: bares @bar.hashtag @kombozabar e @domquixotesnookerpub
E, claro, a Prefeitura de Brumadinho, que fortaleceu com os transportes dentro da cidade @prefeituradebrumadinho

Convidados da viagem: este blog <3, Mulheres Viajantes, Na estrada com as Minas, Mariana Viaja, Kari Desbrava, Sou+Carioca, Rodas nos Pés, Foco no Mundo, Canal Errei, Ideias na Mala, Diário de Turista, Hypeness e Azul Magazine. Coincidência ou não, só tinha um homem na viagem toda, hahahaha Vamos todas cair no mundo, mulherada! #minasqueviajam <3

Mais posts sobre a viagem a Inhotim e Brumadinho:

Mariana Viaja – Visita inesquecível e transformadora a uma comunidade quilombola em Brumadinho

Canal Errei – O melhor de Inhotim e Pub Crawl em Brumadinho – MG

Canal Errei – Inhotim – descobri o Ponto Gê em Brumadinho – MG

Foco no Mundo – Inhotim: dicas e tudo o que você precisa saber antes de ir

Mulheres Viajantes – Brumadinho, além do Inhotim

Rodas nos Pés – Apresentando BRUMADINHO ALÉM DE INHOTIM: muitas descobertas!

Ideias na Mala – Principais obras de arte de Inhotim – O Inhotim como você nunca viu antes

Hypeness – Além do Inhotim: o que fazer em Brumadinho, cidade-sede do maior museu a céu aberto do Brasil

Kari Desbrava – Brumadinho além de Inhotim: uma viagem pelo interior de Minas Gerais

Kari Desbrava – Inhotim: dicas do que conhecer
Foco no Mundo – O que fazer em Brumadinho além de Inhotim

1 comentário em “De rolê por Inhotim e Brumadinho: vivência inesquecível nos quilombos Marinhos e Sapé”

  1. Pingback: Dicas de Inhotim: O que fazer, como visitar em 1 dia, o que levar, como ir

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima
Rolar para cima