Cidade do México.
Os estudantes mexicanos viajaram de ônibus da escola onde estudavam em Ayotzinapa para arrecadar dinheiro para ir à Cidade do México, a fim de protestar em memória de outro massacre, o de Tlatelolco. Em Iguala, 6 foram mortos – um deles horrivelmente torturado – e 43 foram desaparecidos, obrigados a sair de um dos ônibus com destino a não se sabe onde.
Mortos também, talvez, provavelmente, ainda que as famílias ainda tenham esperança. As mães sempre têm esperança.
E o tiro sai pela culatra. O ataque parece que foi ordenado pelo prefeito-criminoso José Luis Abarca, mas ele não silenciou suas vozes. Ele e sua mulher estão agora fugindo das autoridades, desaparecidos também, mas voluntariamente: para proteger a própria pele. O governo vai atrás, já prendeu 52 pessoas e está buscando mais culpados. Porém as gangues não têm rosto reconhecível, governo paralelo que se infiltra em todas as esferas. E a violência, ao invés de calar os que faziam perguntas, tem efeito reverso: gera revolta, amplifica as vozes dos que sofreram, une as pessoas.
Ontem, dia 21 de outubro, mais de 15 mil (isso de acordo com a Secretaria de Segurança pública do Distrito Federal e esses oficiais adoram subestimar as quantidades) se reuniram no Zócalo, praça central da Cidade do México. Eles pediam a volta com vida dos 43 estudantes da escola normal (para professores) de Ayotzinapa. Foi mais um de diversos protestos que estão acontecendo desde o dia 26 de setembro, data da tragédia.
Fui de bicicleta para a praça pelas ruas fechadas cheias de gente com cartazes, velas, pinturas no rosto, máscaras, fantasias, artigos à venda (de artesanato hippie a velas para participar das manifestações). Um evento. Muita gente tirando fotos, filmando, reconhecendo-se na multidão.
Ainda que fosse um motivo triste, ver o protesto me deixou feliz por estar presenciando aquele momento. As pessoas marchavam com raiva, tristeza, revolta, indignação, mas unidos. Expressivos. Marchavam contra a brutalidade, contra o terrorismo de estado, pelos estudantes de Ayotzinapa, cansados de tanto sangue, esperando a volta dos jovens. Estarão vivos?
No palanque, parentes dos estudantes desaparecidos discursavam sobre sua dor, pediam pela sua volta, enviavam pedidos ao vazio (aos deuses?) para que estivessem vivos. No chão, grupos e mais grupos chegavam da caminhada desde o monumento Ángel de la Independencia com seus cartazes, cores e gritos. Pessoas contavam de 1 a 43 para lembrar os que sumiram. Usavam a hashtag #ayotzinapasomostodos. Gritavam “Vivos los queremos”!
As vozes se misturavam e ecoavam pelos monumentos públicos, repetiam os discursos duas, três vezes, com delay. Subiam aos céus, será que chegaram até os estudantes?
A polícia, non grata, observava à distância, sem os cascos de guerra que vi muitas vezes em São Paulo no ano passado. Não interviu em nada. Ainda bem, não precisamos de mais sangue, de mais um motivo para protestar. Os manifestantes não são inimigos, não são criminosos, são pessoas que eles têm o dever de proteger. Será que eles vão compreender isso algum dia?
Onde estão os estudantes? Presos nas mãos dos narcos? Enterrados em covas anônimas?
Um protesto que se tornou massacre. Exceção? Não. São vários. Ainda que esse em especial seja excepcional em horripilância. Pessoas perdem os olhos para as balas de borracha, caem de viadutos aturdidos pela confusão e correria da perseguição, se intoxicam de gás lacrimogêneo, “desaparecem” nas mãos da polícia, morrem por exercer o seu direto de manifestar-se, de gritar que algo anda mal, de pedir mudanças, por questionar apenas. Morrem. Morrem por desfrutar da suposta liberdade de expressão. Suposta. Porque, se fossemos realmente livres, isso não aconteceria. Como isso pode acontecer em uma democracia?
Ainda é democracia se só podemos nos manifestar votando de tantos em tantos anos?
Esse post poderia ser sobre o Brasil, acerca dos protestos que começaram em 2013. Mas (felizmente?) a ação da nossa polícia parece brincadeira perto da brutalidade que acontece no México. Torço para que o governo seja forte, reorganize-se, encontre os culpados, retome o controle em nome da população e não contra ela.
Os estudantes de Ayotzinapa cabiam em três ônibus.6 morreram. 43 foram desaparecidos. A indignação e dor que se seguiu ao massacre não cabe. Nem se usarem todos os ônibus do México.
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