Depois de voltar do México, senti que precisava de um tempo com as minhas montanhas.
A família da minha mãe é do Vale do Mucuri, há poucas horas do sul da Bahia – pra chegar, é preciso vencer 11 horas de estrada de asfalto esburacado, morros suaves com grandes pedras pretas brotando do solo, um calor de rachar mamona, vastidões. As cozinhas têm cheiro de bolo de macaxêra. A canjica da festa junina é feita com côco ralado fresco.
A família do meu pai é da região do Campo das Vertentes, três horas ao sul de BH, Serra da Mantiqueira, região de nascentes, café e gado gordo. Distâncias curtas, mas percorridas de carro, de preferência uma caminhonetona de cabine dupla. Pra mim, o melhor pão de queijo do mundo se faz é ali. A canjica das festas de junho é feita com amendoim, sem côco.
Como queria estar isolada, mas não inacessível – e aproveitando a oferta generosa da minha tia Wanda -, fiz uma conta potente de internet 3G e me mudei pra casa da minha tia avó em Santo Antônio do Amparo.
20 mil habitantes, você não deve ter ouvido falar. Da Fernão Dias (BR 381), você vê a igreja (foto acima) lá no alto do morro. A fundação da cidade começou ali, no ponto mais alto da região. Fica pertim de Lavras, a poucas horas de BH. É o berço da minha família paterna.
A casa estava desocupada há alguns anos, desde o falecimento da Vovó Tetê. Uma casa grande, antigona, daquelas construídas pra famílias com infinitos netos, tios, primos de primeiro, segundo, terceiro e milésimo grau.
Casa bem cuidada: o piso no lugar, morcegos devidamente expulsos dos cômodos, fogão, geladeira, tudo funcionando bem. Só alguns móveis insistem em alimentar os cupins… Quintal grande, cheio de árvores frutíferas: mexerica, limão capeta, laranja serra-d’água, lima, jabuticaba, manga, pinha, nêspera. Cheio de passarinhos também. Os meus preferidos são os bem-te-vis, sempre cantando alto no começo da manhã e no fim da tarde. Depois de tanta socialização e intensidade no México, essa tranquilidade era tudo que eu estava procurando.
Bem-te-vis vêm me visitar na varanda todos os dias
Não tenho medo de fantasmas e eles não vieram conversar comigo (mas sei que estão por aqui). Convivemos cada um em seu mundo. Eu com meus livros, frilas de jornalismo e tradução, posts no blog, lembranças de viagens em terras distantes, receitas inventadas e visitas esporádicas aos parentes, à padaria e à feira livre do sábado pela manhã. Eles com suas memórias e segredos.
Meditação e ioga têm sido parte importante da rotina: estou cuidando da mente e do corpo como nunca tinha cuidado antes. Para meditar, conto com a ajuda do programa Peace Revolution, que busca contribuir para a paz mundial apoiando pessoas na sua busca pela paz interna. Recomendo muito!
Não é fácil controlar a ansiedade de querer terminar logo tudo, passar pra próxima fase, ver o trabalho terminado sem nem ter começado direito. Mas a meditação tem me ajudado demais.
Se quiser acompanhar a rotina do interior, do meu Brasil Profundo, me siga no snapchat – eusouatoa.
Essa rede social virou minha principal conexão com o mundo lá fora. Diariamente, posto receitas, conto casos e mostro a rotina na casa e na cidade.
Pingback: Vale a leitura - Observação & Análise
Pingback: Meditar vai me levar para a Tailândia (e não é viagem astral)
Pingback: #BrasilProfundo - vídeo sobre Santo Antônio do Amparo