A história de Santo Antônio do Amparo, Minas Gerais, se mistura com a história da minha família.
Manoel Ferreira, conhecido como Jangada, português de Ventozela, desembarcou no Brasil lá pela metade de mil e setecentos. Para ganhar a vida, vendia capotes, capa de couro que protegia cavalo e cavaleiro da chuva e do frio.
Certo dia, de passagem pelo sul de Minas Gerais, o comerciante virou fazendeiro: trocou seus capotes por um bom pedaço de terra, fértil e promissora.
Em 1778, terra no Brasil não valia quase nada, o tamanho das propriedades era medido em dias de viagem entre uma ponta e outra.
Uma vez conseguido seu quinhão, Manoel não perdeu tempo: lidou com os índios (os expulsou e provavelmente matou quem resistiu), comprou escravos e começou sua fazenda como mandava o manual da época. Casou-se com Feliciana Cardosa de Andrade, que nasceu em Penha da Lage, perto de São João Del Rey. Vida estabelecida.
Vó Ilda (85), Vô Fernando (89) e Vó Lourdes (não sei…), três dos membros mais antigos da família Ferreira. Visitar o Vô Fernando é como voltar no tempo: ele conta histórias da época da estrada de ferro até o Rio, das tropas de gado atravessando Minas, das peladas na quadra pública de Santo Antônio.
Alguns anos mais tarde, já crescidos os filhos, um de seus escravos sumiu (ou será que fugiu?). José Ferreira Cardoso, terceiro filho do casal, fez uma promessa a Santo Antônio: se o escravo voltasse (ou fosse recapturado), ele faria uma capela em homenagem ao santo no ponto mais alto de suas terras.
O escravo voltou, diz-se que por causa de uma visão de Santo Antônio, e a capelinha foi construída. Em volta da igrejinha, construíram o povoado. Primeiro uma família, logo outra e mais outra.
A parte do “Amparo” de “Santo Antônio do Amparo” é porque o lugar servia de ponto de parada para os tropeiros que passavam na região. Duas minas de água e uma trepadeira que fazia uma bela sombra amparavam viajantes vindos do Rio, São Paulo e Sertão.
O povoado cresceu e se multiplicou, como a família Ferreira Aguiar Paiva. Famílias se juntaram por casamento e ficaram, escravos se libertaram, forasteiros vieram – todos trabalhando por sua parte na economia que gira em torno do café, grão arábica que nasce com qualidade inquestionável. A capelinha foi demolida, uma igreja grande foi construída no lugar. Suas torres são visíveis lá de baixo, da BR 381. O distrito virou cidade em 1939 e hoje habitam quase 20 mil pessoas.
Mamãe, Sofia e papai vieram me visitar em Santo Antônio do Amparo <3
A minha história acompanhou tudo isso.
José teve onze filhos, que tiveram mais filhos e netos e primos que casaram entre si – aquela coisa de família grande do interior – até nascer o meu pai, Rodolfo Carvalho de Aguiar, que tem o Jangada repetido 13 vezes na árvore genealógica. Imagina a confusão de parentes nas festas de família.
Papai já nasceu em Belo Horizonte, mas meu avô Orlando Gomes de Aguiar Paiva (o sobrenome Ferreira se perdeu no caminho) é de Santantônio. Melhor dizendo: de um pedacinho da fazendona do Vô Jangada que foi se dividindo a cada geração.
Aqui, as ruas mais antigas têm sobrenome Aguiar, Paiva, Ferreira, Gomes, Avelar. Parentes que eu nunca conheci, mas que povoaram histórias antigas contadas na borda de incontáveis xícaras de cafezinho com biscoito.
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Pois eu sou seu parente de Araxá/MG.
A família lá é muito grande e tradicional, sou neto de João Baptista de Aguiar é Fernanda Ferreira Aguiar, nasci em BH, pois minha mãe que é Aguiar, se casou com meu pai que é de BH.
Tínhamos uma ótima fazenda em Perdizes e uma casa com um alpendre muito grande bem no centro de Araxá, onde passei várias férias da minha vida.
E tenho notícia de primos nossos em Juiz de Fora, originário de Santo Antônio do Amparo.
A vida é uma grande coincidência.
AH, que legal, seja bem vindo ao blog, primo 🙂