É no Mercado Ver-O-Peso, considerado a maior feira livre da América Latina, que deságua a maioria dos produtos amazônicos, de onde partem para o resto do mundo.
Belém é uma cidade mágica, efervecente, hospitaleira, quente, úmida, inebriante. E o Mercado Ver-O-Peso é a porta de entrada para começar a experimentar esse mundo novo amazônico com o passo firme.
Ele está situado às margens da Baía do Guajará, na borda entre o Centro Histórico de Belém e a Estação das Docas (área de docas recém reformada que abriga restaurantes, a cervejaria Amazon Beer, a sorveteria Cairu – delícia delícia delícia – mais próxima e espaço de exposições e apresentações culturais). Tem 35 mil km² de extensão e movimento 24h, por setores.
As primeiras horas do dia são, o açaí, ouro negro amazônico. A Feira do Açaí começa à 1h da manhã e se estende até o raiar do sol.
O açaí é bastante perecível depois de colhido, por isso deve ser vendido e processado logo – as frutas vão para uma batedeira especial que separa a polpa da semente. Aí é só misturar com água (o grosso é com pouca água, o fino é com muita água, pra tomar de canudinho) e servir – ou congelar e mandar pro mundo.
O açaí chega ao Ver-O-Peso a partir da 1h da manhã em cestos e cestos de 15 quilos cada um. Eles são descarregados dos barcos com rapidez e vendidos de acordo com tamanho, qualidade e espécie com mais rapidez ainda, aos berros. Ganha quem for mais sagaz e experiente.
Além do açaí roxinho que chega ao resto do Brasil, há também um tipo mais raro, o chamado “açaí branco” que na verdade é verde, inclusive quando está maduro. A oferta dele é menor e seu preço é mais alto – não consegui provar dele dessa vez, vou ter que voltar!
A festa da fruta amazônica continua na madrugada, basta procurar os cestos de produtos que não são roxos e miúdos.
Escrevi este post sobre a Feira do Açaí para o blog da MaxMilhas, confira!
Das frutas que experimentei na Feira do Açaí, as que mais gostei foram o cupuaçú, tão macio e gorduroso quanto manteiga (à esquerda) e o biribá, fruta que se parece com a fruta-do-conde, mas tem textura macia e leve, como algodão doce (à direita na foto).
A manhã vai se descortinando, a confusão no extremo-oeste do Ver-O-Peso vai se acalmando e o resto do mercado começa a despertar.
Cai então a primeira das muitas chuvas do dia – estive lá em janeiro e eram uns 5 ou 6 pés d’água diariamente.
Assim que chega o gelo numa esquina à beira da baia, é hora de experimentar mais frutas loucas dessa floresta imensa, dessa vez na forma de suco. O setor de sucos é movimentado enquanto há fruta disponível. A oferta varia de acordo com a estação e tem fruta de tudo que é jeito: azeda, doce, amarga… e muito coloridas!
O movimento do Ver-O-Peso vai se expandindo pra mais áreas, toma conta de setores cobertos por lona, por uma parte de edifícios antigos, mais e mais mercado até acabar forçadamente onde começa a Estação das Docas.
Em Belém, a castanha do Pará é chamada apenas de castanha – e é vendida no litro, descascada ou com casca, quebrada ou inteira.
A facona que é usada para abrir a casca da castanha me assusta e dá medo que leve o dedo de alguém (deve levar, quando a pessoa ainda não tem experiência). Não vi ninguém com dedo faltando nem marca de sangue, o que me leva a crer que todos os quebradores de castanha em serviço, mesmo os muito jovens, são bons na função.
Tem gatos por toda parte! Eles são os reis das banquinhas, exceto na área de comidas, ainda bem.
O setor de comidas serve pratos com açaí e peixe frito, açaí e charque, peixe frito com arroz e farofa, maniçoba, tacacá e outras variedades desde o começo da manhã até o meio da tarde.
Para comer açaí no almoço do jeito tipicamente amazônico, coloca-se farinha de tapioca na tigela de açaí. A farinha incha e a mistura fica com consistência de purê, que é então comido às colheradas junto com a carne.
Tudo coberto por causa da chuva, que é uma constante! De vez em quando aparecem esses buracos por onde a água escorre. Nada fica encharcado por muito tempo – ou melhor, tudo evapora e volta a ser umidade do ar.
As mesas são simples balcões ao redor das cozinhas que se resumem a fogareiro e panelões, um jeito bem simples e eficiente de preparar comida em quantidade com o mínimo de estrutura, que eu vi igual no México, na Bolívia, no Peru e também pelos lados da Tailândia e Laos.
Confesso que continuo preferindo o meu açaí com banana, guaraná e granola, mas fiquei feliz em provar a maneira tradicional de comer a fruta.
Por último, meu passeio me levou à área que vende artesanato, acho que é uma das que fica aberta até mais tarde, para atender aos turistas preguiçosos. O que mais gostei foram as cumbucas para tomar sopa, mas também é possível encontrar bijouterias muito bonitas, estatuetas feitas de madeira, roupas e toda sorte de lembrancinhas para levar pra casa.
O sol vai se pondo, as barracas vão fechando, entra o pessoal da limpeza dando uma geral em tudo.
E tem os urubus e garças, claro, que vêm festejar com os restos. A natureza segue seu ciclo, logo é hora da Feira do Açaí.
Enquanto esse movimento de limpeza acontece no Ver-O-Peso, acho que é hora de ir ao bar Meu Garoto, que fica a poucos quarteirões dali (Rua Senador Manoel Barata, 928), para experimentar umas cachaças curadas com frutas e especiarias. Que tal?
A cachaça de jambú (que faz a boca ficar dormente) é só a mais famosa delas – até o Jamie Oliver parou no Meu Garoto para provar! O bar tem várias outras opções deliciosas e menos psicodélicas, como a de açaí, a de cajú, a de bacurí… e cada dose ainda vem com uma mini porção de caldinho bem temperado e muito gostoso!
Ai, Belém do Pará, que vontade de voltar!
Giovana Suzin, amiga do peito e companheira de viagens maravilhosas, aprova e recomenda as cachaças do bar Meu Garoto
Escrevi este post sobre a Feira do Açaí para o blog da MaxMilhas, confira!