Para quem sonha em ver as luzes dançantes da aurora boreal, não existe tempo frio demais nem euro alto demais que não possa ser contornado por muito planejamento (e poupança!).
Aurora boreal é meio tímida: precisa de céu claro sem nuvens e ambiente bem bem bem escuro para ser vista. E mesmo assim não é certo que apareçam… Fernanda Didini e Flávio Pessoa sempre quiseram ir até a ponta norte do planeta Terra para ver esse espetáculo – e conseguiram realizar seus desejos em março do ano passado. Além de terem calculado direitinho a melhor data para ir, eles ainda tiveram uma sorte grande: as luzes de 2015 foram umas das mais intensas da última década!
A Fernanda compartilhou com o blog como foi o planejamento e a viagem em um email super fofo de viagem com fotos incríveis que tirou por lá, leia abaixo! Espero que ajude você a planejar a sua viagem e que também tenha a sorte de ver essas luzes mágicas! Eu já estou sonhando com elas desde que recebi o texto da Fê…
Fernanda Didini e Flávio Pessoa são designers e, quando viajam procuram sempre comer comidas locais diferentes. Ela vai com a missão de tirar muitas fotos e nem pensar em trabalho, já ele busca jornais e revistas do lugar e não deixa de ir a lojas de discos. Nesse rolê pelo norte, além de ir à Tromsø para caçar a aurora boreal, eles também pegaram dicas sobre como gastar menos na Noruega aqui no blog para tornar a viagem pelo norte da Europa mais econômica sem deixar de ser interessante.
Planeje e faça as malas!
Fez uma viagem incrível e quer compartilhar dicas com os leitores do blog? Me manda um email que eu publico! livia.aguiar@gmail.com
Em busca da aurora boreal
Por Fernanda Didini
O sonho de ver uma aurora boreal começou desde muito jovem. Provavelmente assistindo algum episódio do Globo Repórter: lembro bem claro a imagem de algumas pessoas deitadas observando o céu e luzes verdes dançando. Talvez tenha sido uma mistura de sonho e memória de alguma imagem. Não sei. Mas isso ficou grudado na minha mente.
No final de 2014, depois de 2 anos sem tirar férias, marquei uma data sem saber pra onde iria: março de 2015. Num erro da KLM, consegui passagens promocionais pra Europa, mas não tinha definido o roteiro. Resolvi pesquisar coisas legais que poderia fazer na região na época das férias e um amigo, a quem vou ser eternamente grata, comentou: “acho que nessa época ainda tem aurora boreal lá pro norte europeu”. Bingo! Resolvi planejar as férias toda (25 dias) por causa da aurora.
Dei um google em “aurora boreal melhor lugar para ver” e li em vários blogs alguns destinos mais indicados. Entre eles Tromsø, lá no norte da Noruega. O diferencial de Tromsø é a temperatura mais amena. Isso e o fato de Tromsø ser o nome mais legal da lista. Vi aqui no blog um post maravilhoso que me fez prolongar a estadia o país <3.
Fernanda e Flávio felizões com a aurora ao fundo <3
Como todo país nórdico, a Noruega é um lugar muito caro, então um bom planejamento é ideal para gastar o mínimo possível. Tromsø é uma cidade turística e com milhões de agências que te levam para ver a aurora.
A natureza é imprevisível e para ver a aurora é preciso muita sorte. E eu tive bastante!
Conhecendo a natureza e tendo algumas viagens frustradas por causa de chuva anteriormente, segui quase a risca dos conselhos da internet pra reservar a quantidade de dias para ficar em Tromsø:
4 noites em função da aurora boreal
As 4 noites foram escolhidas matematicamente para assistir um show. Entre os dias 16 e 20 de março, o céu estava assim:
. lua nova (ou seja, nenhuma luz no céu)
. equinócio de primavera (época que a terra fica mais próxima do sol, que tem tendencia a ter KPs mais altos – KP é a intensidade da aurora boreal, tipo intensidade de terremotos, só que por um bom motivo)
. e um fato único de muitos anos: o eclipse total do sol (ou seja: ainda mais escuro).
Todos os fenômenos astronômicos juntos. Época ideal!
Bom, a primeira parte já estava feita, escolher o local e as datas pra ver a aurora.
Agora precisava agendar um tour e ir! Li sobre pessoas que tentaram encontrar a aurora sozinhos de carro mas pra mim parecia muita aventura num lugar tão distante com tanta neve e sem imaginar como e onde achar aurora… nada. Segui o conselho de pagar alguém pra me levar e super recomendo.
Escolher a agência certa é o mais importante. Existem muitas e muitas. Optei por duas que tinham menores grupos e que tivessem mais tempo de busca pela aurora.
A maioria delas parte as 19h e retorna a meia noite. Quis reservar 2 agências por aqui para garantir. Achei que seria ideal encontrar uma pra me levar no primeiro dia (cheia de ansiedade) e outra marquei para 2 dias depois. As agências não te reembolsam o valor se você não conseguir ver aurora. E isso é bem estressante porque além de já ter medo de ir até o lugar mais ao norte do planeta que já imaginei, voltar sem ver aurora seria cruel.
Para tirar as fotos da aurora, é preciso ter uma câmera profissional que tenha:
Caçada às luzes em Tromsø, Noruega
Reservei dois dias de caçada, em duas agências diferentes:
ROUND 1
A primeira que contratamos foi The Northern Lights Hunter (reservei por aqui). Escolhi essa agência pro primeiro dia pois começavam mais tarde, 19h30.
Apesar de ter hora pra voltar, tive confiança que eles poderiam ser mais precisos na hora de parar a van pequena no meio da estrada caso as luzes aparecessem pra nós. O email que nos enviaram dizia que tínhamos que nos encontrar na frente do Clarion Hotell The Edge as 19h. Chegamos meia hora mais cedo e não encontramos ninguém… estranho. Entramos no hotel e ninguém sabia da existência do grupo. Ficamos no frio e lembramos que ali perto tinha o Centro Turístico de Tromsø e pedimos para alguém ligar para a agência. Falaram que chegariam no lugar marcado as 19h30 em ponto. Enquanto isso, avistávamos outros grupos partindo e nós ficando pra trás. Que angústia.
Finalmente chegaram outras pessoas: 2 indianos (que tinham na noite anterior tentado ver a aurora num grupo grande – 45 pessoas e não viram nada) e 2 americanos. Assim nosso grupo estava pronto e a van chegou. Partimos, agora angustiados com a má notícia dos indianos, mas jamais perdemos a esperança.
O guia nos pediu para sempre fechar os olhos, virar o rosto e nos proteger da luz caso passassem outros carros. Isso ia nos ajudar a ter mais sensibilidade ao escuro e enxergar melhor. Ele nos explicou que a luz do sol em março vai embora as 6h da tarde e que as 10h da noite toda a luz já foi embora e só assim a aurora aparece. Sempre entre 10h e 10h30. O carro parte às 7h30 da noite porque precisamos sair da cidade e fugir da luz artificial.
Umas 10h30 começamos a olhar pela janela atrás de nuvens de aurora.
Nuvens? Sim!
A aurora quando mais fraca é apenas uma nuvem dançante, porém ela é na vertical, como um arco de arco-íris. Encontramos uma e paramos o carro. Posicionamos a câmera e ficamos esperando a aurora aparecer mais. Ela era bem fraquinha, e a olho nu só víamos a tal nuvem branca dançante… meio frustante, mas bem legal.
Paramos em cima de um bloco de gelo. E era frio demais!!! Meus pés congelavam e o guia, muito gente boa me mandou dançar para aquecer ahahahhaha. Além claro, dos cookies e chá quentinho. A aurora era linda, fraquinha, mas tinha um formato de arco íris e dançava. O céu era o mais limpo e mais estrelado que provavelmente vou ver na minha vida inteira. As vezes perguntava pro guia: aquilo é uma aurora? E ele falava: não! Provavelmente é a via láctea! OOOIIII? a olho nu. Mas eu queria aurora verdinha! 🙂
Foto: Fernanda Didini
Nesse primeiro passeio, apesar de termos visto um céu estrelado como nunca vi antes, teve uma aurora fraca. Somente alguns riscos brancos no céu, que quando fotografados, apresentavam um pouco de verde. Voltamos para casa felizes mesmo assim. Afinal, tínhamos mais dias para tentar de novo.
ROUND 2
A segunda caçada foi feita com a Chasing Lights, que foi a melhor na nossa opinião, com direito a fogueira, jantar, fotos e videos.
Pela manhã, checamos a previsão do tempo e susto: no dia seguinte (quarta), quando já tínhamos marcado outro passeio, o tempo ia virar: chances grande de nevar (e junto com isso, céu encoberto). Resolvemos mandar email para tentar negociar com eles uma mudança na data. Quando abrimos nossa caixa de entrada, para nossa surpresa eles já tinham mandado email antes para nós perguntando o seguinte:
“A previsão do tempo para amanhã estará bem ruim. Temos duas vagas hoje: vocês gostariam de trocar?”
Respondi na mesma hora: “Claro! Estaremos prontos aqui no hotel 17h”.
Chega a van no horário, subimos e encontramos lá nossos dois guias, Anna e Thomas, e nosso primeiro companheiro de viagem, Kevin Hassett, um cara muito simpático que estava dando uma volta ao mundo. Seguimos em frente, pegamos os outros passageiros e fomos para estrada. Thomas foi nos explicando como eles trabalhavam, de acordo com o tempo e informações trocadas com outros guias. Nesta noite, a perseguição nos levaria ao sul do arquipélago onde Tromsø fica, em direção a fronteira entre Suécia e Finlândia (temos até uma rota no Google Maps).
Até chegar na fronteira entre Noruega e Suécia, foram aproximadamente 2 horas e meia de estrada, com algumas paradas em postos de gasolina. A paisagem é impressionante, muita neve derretendo ao redor, casas lindas, céu ficando limpo e uma estrada sem quase carros. Tudo isso era realçado pela escuridão da van: precisavamos nos acostumar a ficar sem luz artificial, treinar nossos olhos para visualizar a aurora.
Ao passar a fronteira, os lugares foram ficando realmente desertos, a estrada ficava mais estreita e o clima mais perfeito. Todos os detalhes se misturavam e dando um ar de Twister (o filme) àquela perseguição. Fizemos mais algumas paradas em beiras da estrada, mas continuamos fugindo das nuvens e procurando maior atividade/intensidade da aurora. No trajeto, começou a nevar – foi nossa primeira vez vendo neve! E vimos uma raposa, linda, cruzar a estrada.
Nossa última e definitiva parada foi a mais longa e especial.
Arranjamos um acostamento com mais espaço e segurança, e o céu sobre nós começava a ficar realmente limpo e com a aurora surgindo em várias posições diferentes, o que é raro. Nossa câmera não ficava parada 5 minutos no mesmo lugar e dávamos várias voltas em 360˚, tentando acompanhar as voltas que ela dava.
Foto: Fernanda Didini
Após algum tempo de muitas danças no ar, a aurora deu uma enfraquecida. Thomas e Anna resolveram então servir nosso jantar: ao redor de uma fogueira, tivemos no menu comida de acampamento (batata com carne foi o nosso pedido, deliciosa) e chá quente. Já estávamos bem felizes, cansados e, claro, com os pés congelados: estávamos a três horas em pé, com as botas enfiadas em camadas de gelo.
Eu logo entrei na van, me aquecendo e pronta para voltar, quando olho pela janela e todos do lado de fora estavam gritando e olhando para o céu. Desci da van correndo e nesse momento o grande espetáculo aconteceu:
Foto: Fernanda Didini
A aurora mais forte e o céu mais aberto e uma dança que parecia fogo verde mudando de cor em cima de nossas cabeças. Era surreal.
Deitamos no chão, esquecemos das câmeras e ficamos aproveitando aquele momento incrível.
Foto: Chasing Lights (tirada no passeio de Fernanda, gentilmente cedida ao blog)
Em alguns momentos a aurora chegava a passar bem por cima de nós, como se fosse uma chuva caindo do céu. Ou então virava e passava por nós muito rápido, como se fosse um efeito especial, um risco de luz, e ao mesmo tempo dobrava e mudava de cor.
Foto: Chasing Lights
Foi verde, depois rosa, depois azul…
Nosso guia Thomas, com anos de experiência e exímio fotógrafo, se vira e fala: “Essa é a aurora mais colorida e intensa que já fotografei em toda minha vida”.
Aos poucos, ela foi se despedindo de nós, e nós daquele lugar. Tiramos mais algumas fotos de grupo, arrumamos nossas coisas e era hora de volta à Noruega – 2h da manhã.
Na volta, Thomas e Anna, com sorrisos no canto de boca, resolvem abrir o jogo: eles já esperavam aquilo. A previsão do índice KP, que revela a intensidade solar na atmosfera, naquele dia foi 8, a maior nos últimos 6 anos. Na prática, isso quer dizer que a aurora pode ser vista até na Inglaterra, muito mais ao sul do planeta e fora do círculo polar ártico. O que conseguimos ver naquela noite foi uma combinação de muitos fatores de sorte: um tempo perfeito, o local perfeito e uma intensidade do fenômeno incrivelmente rara.
Chegamos ao nosso hotel 6h da manhã, congelados, cansados mas muito felizes e agradecidos de termos tido a sorte de ver algo tão incrível.
Algo para ficar sempre na nossa memória e que ficamos sempre felizes de contar para os outros. Todos precisam ver isso um dia.
É caro? É, mas vale realmente cada centavo (de coroa norueguesa).
Quanto custou?
Northern Lights Hunter: 200 euros/pessoa – o guia e o motorista eram muito, mas muito simpáticos, solícitos e divertidos – tivemos ótimos momentos com eles (mas a aurora boreal não colaborou tanto).
Chasing Lights: 370 euros/pessoa – a melhor empresa, com direito a fogueira, jantar, fotos e videos.
Hospede-se em Tromsø:
E mais..!
Fez uma viagem incrível e quer compartilhar dicas com os leitores do blog? Me manda um email que eu publico! livia.aguiar@gmail.com